Se alguém me perguntasse de que matéria é feito O sapato do meu tio, não saberia responder. Os sapatos são feitos geralmente de couro de um animal, antes esticado e posto no curtume, para o nosso conforto. Mas este espetáculo fala de pedras que ficam no sapato, incomodando. A fome, a convivência, o domínio da técnica, a recepção do público, a luta pela sobrevivência, a vontade de se superar e superar o outro, uma carroça, um par de sapatos, um palhaço e seu sobrinho-ajudante-querendo-também-ser-palhaço, o mestre-aprendiz e o aprendiz-mestre. Esses são alguns dos ingredientes de uma fábula sobre a transitoriedade da vida.

“E o palhaço, o que é?” Só sei que o palhaço não é só o que veste uma roupa colorida, calça um par de sapatos grandes, usa um nariz vermelho e faz palhaçadas pras crianças. O palhaço é também o ser humano que se revela apesar do disfarce, que emociona porque chora e ri de verdade, embora estampe em seu rosto o sorriso e a lágrima maquiados, para pessoas de todas as idades.

O palhaço também é posto no curtume. O palhaço também tem suas pedras. O que se aprende? O que se ensina? Valeu a pena? E a nossa vida, como vivemos? A verdade do palhaço pode levar o público do riso às lágrimas. O palhaço também encanta, emociona, com seu riso, com seu choro, com sua tristeza e com sua alegria. E tudo cabe nesta carroça, de passagem, como a vida.


João Lima e Alex Simões


Foto Ricardo Sena
Um olhar sensível e bem-humorado sobre a convivência de um artista e seu aprendiz.
Tio e sobrinho.
Sobre uma carroça, os dois viajam de cidade em cidade. De início o sobrinho é um mero puxador de carroça, subserviente e resignado de sua condição de servo de um grande artista.
O Tio ensina sua arte para o sobrinho, revelando uma relação de poucas palavras, mas cheia de respeito, humor e, sobretudo, poesia. Entre sucessos e fracassos, os personagens apresentam uma verdadeira homenagem ao ofício do palhaço, onde temas como a passagem do tempo e a aprendizagem são explorados ora através do drama, ora da comédia.
Com o tempo, o aprendizado se faz em via dupla: juntamente com as técnicas e o apuro artístico, o sobrinho aprende de seu tio a vaidade e o tio toma consciência do valor da humildade do mais novo. Nessa viagem, vida afora, alternam-se momentos de angústia, dor, alegria, tristeza, riso e lágrimas. Trata-se de uma homenagem ao ofício do palhaço.
Embora a peça narre a história de dois artistas mambembes, vivendo uma situação específica, o seu significado pode ir além, por falar da transitoriedade da vida, da solidariedade, do respeito mútuo, do aprendizado e crescimento do ser.


Foto Ricardo Sena
A CIA DO MEU TIO nasce do encontro entre os atores Lucio Tranchesi e Alexandre Luis Casali num retiro para estudo do clown, ministrado por Carlos Simioni e Ricardo Puccetti integrantes do LUME - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais, da UNICAMP, em 1999.
Desse retiro também participa João Lima, que vem a ser o diretor do primeiro espetáculo da CIA, O SAPATO DO MEU TIO, encenado pela primeira vez em 21 de setembro de 2005, graças ao Prêmio de Estímulo à Montagens de Médio Porte da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
Em 2006 os atores Lucio Tranchesi e Alexandre Luis Casali e a produtora Selma Santos concretizam a criação da CIA DO MEU TIO com o intuito de levar o espetáculo a muitos lugares e a platéias especiais, como na temporada na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, em que 20% da lotação era destinada a pessoas com deficiência auditiva. Nesse mesmo ano o espetáculo é vencedor do Prêmio Braskem de Teatro, nas categorias Melhor Espetáculo Adulto, Melhor Direção e Melhor Ator (Lucio Tranchesi).
O SAPATO DO MEU TIO, além de cumprir temporadas em vários teatros de Salvador, participou de diversos festivais brasileiros, sempre com grande aceitação, como a 41ª Edição do FILO - Festival Internacional de Londrina - PR; Festival Janeiro Brasileiro de Comédia - São José do Rio Preto - SP; Palco Giratório do SESC em 2008 - passando por mais de 50 cidades de norte a sul do Brasil; 1ª FIAC - Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia; 5ª Edição do SESC FestClown - Festival Internacional de Palhaços de Brasília - DF; Encontro Internacional de Palhaços Anjos do Picadeiro - Salvador - BA, dentre outros festivais, dando prosseguimento ao sucesso alcançado nas platéias de Salvador.
Em 2009 o espetáculo O SAPATO DO MEU TIO inicia sua carreia internacional sendo convidado a representar o Brasil na 12ª Feria Internacional del Libro de Santo Domingo, na República Dominicana no qual cerca de 800 pessoas se fizeram presentes, com grande repercurssão; daí o convite para representar o Brasil na programação do Outoño Cultural Iberoamericano, em Huelva e Sevilla, na Espanha em 2010, edição em que o Brasil foi país homenageado. Ainda em 2010 a CIA DO MEU TIO viajou com o espetáculo para a Guiana Francesa, a convite do Festival Lês Tréteaux Du Maroni. Participou em Santiago, no Chile, do Festival Brasil em Chile, Chile en Brazil. Em 2013 o espetáculo comemorou o Dia Internacional do Teatro e Nacional do Circo no Teatro Mòliere da Aliança Francesa, em Salvador e participou da XI edição do SESC FEST CLOWN, Festival Internacional de Palhaços em Brasília, na sala Plínio Marcos - FUNARTE.
Nesses cinco anos de existência o espetáculo já tem um currículo considerável de apresentações tendo sido visto por mais de 80 mil pessoas em mais de 300 apresentações.

O SAPATO DO MEU TIO na TOURNÊ PALCO GIRATÓRIO - SESC, em 2008.

Em 2008 O SAPATO DO MEU TIO participou do maior projeto de circulação das artes cênicas do Brasil; o PALCO GIRATÓRIO do SESC.
Começamos nos despedindo de Salvador e fizemos em uma semana; Recife, Porto Alegre e Cuiabá. (1)
Nossa participação em Palmas e Campo Grande; onde fizemos intercâmbio com grupos locais e ministramos oficinas. (2)
No Pará nos apresentamos em Belém, Ananindeua e Castanhal.
MALA SEM ALÇA, PALHAÇO SEM CALÇA é um espetáculo de rua de Alexandre Luis Casali e durante a tournê contou com a participação de Lucio Tranchesi. (3)
No Amazonas nos apresentamos em Manaus; atravessamos o rio Negro e fomos até o rio Solimões num dia de São Pedro para o espetáculo em Manacapurú; em Roraima nos apresentamos em Boa Vista e em Iracema. (4)
Brasília e Taguatinga no Distrito Federal. (5)
João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba. Em Mossoró, no Rio Grande do Norte e em Vitória do Espírito Santo. (6)
No Rio Grande do Sul; em Porto Alegre, São Leopoldo, Montenegro, Caxias do Sul, Passo Fundo, Erechim, Ijuí, Santa Rosa, Uruguaiana, Lajeado e Santa Cruz do Sul. (7)
São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. (8)
Em Santa Catarina: Jaraguá do Sul, São Bento, Joinville, Brusque, São Francisco do Sul e Itajaí. (9)
... Blumenau, Guaraciaba, Chapecó, Concórdia, Lages, Lages-Pousada Rural. (10)
E concluindo a tournê, ainda em Santa Catarina, nas cidades de: Criciúma, Tubarão, Laguna e Florianópolis. (11)





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Trata-se de uma homenagem ao ofício de palhaço calcada em alguns de seus maiores expoentes. Embora a peça narre a história de dois artistas mambembes, vivendo situação específica, o seu significado pode ir além, por falar de transitoriedade da vida, da solidariedade, do respeito mútuo e do aprendizado e crescimento do ser.

17 comentários:

O SAPATO DO MEU TIO disse...

"...o espetáculo fez uma revoluçõa em meus sentidos."
Mabel Velloso - Escritora

"...os atores provam no palco que são donos dos seus narizes de palhaços..."
Tuna Espinheira - Cineasta

"Um sapato feito com lirismo, afeto, verdade e bom humor..."
Joselia RIbeiro - Jornal A Tarde

"...utilizando técnicas de clown, mas de maneira inventiva e com sopro poético, a dupla de atores perpassa situações e palhaçadas "clássicas" com depuramento e frescor, raros num gênero propício a improvisações banais e repetições acomodadas"
Macksen Luiz - Crítico - Jornal do Brasil

"...o riso é pontuado por cenas de extrema comoção e delicadeza... Não perca por nada."
Sergio Maggio - Crítico - Correio Brasiliense

Natalia Régia disse...

Nenhum espetáculo me emocionou tanto como ele.Já assisti duas vezes e todas as vezes que vier pra Fortaleza irei assistir!
Parabéns por tão linda obra de arte!!!!

Lilian disse...

Conversa sussurrada ao pé do ouvido com, Caiuá (meu filho de 6 anos), durante o espetáculo:
- Por que ele está fazendo isto? (batendo no sobrinho)
- Acho que é única forma que ele sabe ensinar... Você acha que ele aprendeu assim?
- Acho.

Aprender a viver... aprender a fazer arte... É tão parecido se olhamos pelo olho do palhaço.
Esta peça consegue ao mesmo tempo celebrar a tradição e questioná-la. É a celebração do ciclo da vida que se renova ao mesmo tempo que nos questiona sobre a repetição de ações tristes.
É também um olhar para a vida que é triste/alegre: inteira. Íntegra. E é aí que a gente se emociona. Porque somos essa mistura daquilo que desejamos (o sobrinho que deseja ser palhaço)com aquilo que nos é imposto (aprender do Tio o ofício da maneira como nos é ensinado). E não é bom nem ruim, não é certo ou errado: é humano. E então nos rasgamos, nos expomos e compartilhamos a experiência da VIDA, na ARTE, nos permitindo enxergar com a franqueza e a ousadia do palhaço, aquilo que escondemos de nós mesmos no cotidiano.

Lilian disse...

Só mais uma palavrinha:
assistir vocês (inclusive o bate-papo depois)me deu uma saudade muito grande do LUME. Dessa generosidade infinita que eles tem com o trabalho, e que vocês também trazem muito forte. Espero vê-los mais vezes por aí! E quem sabe trazê-los, mais pra frente, para dar um curso intensivo de palhaço aqui em Cuiabá?! Ou então um Retiro em Chapada dos Guimarães, que tal?

Ah, só pra constar: meu nome é Lilian - sou aquela que estava com o filhote dormindo no colo no fim da apresentação no Sesc Arsenal - Cuiabá. Falei com vocês rapidamente ao fim do bate-papo. Fiz Artes Cênicas na Unicamp e morei em Barão Geraldo-Campinas por 9 anos (dali que eu conheço o pessoal do LUME). Hoje estou morando aqui em Cuiabá e estou fazendo parte de um grupo que chama Cia Pessoal de teatro. Gostaria muito de manter contato com vocês! O email da Cia é ciapessoal@yahoo.com.br qual é o contato de vocês? Aguardo um retorno! Um grande abraço!

Unknown disse...

Parabéns e obrigada pela passagem em Cuiabá, definitivamente o melhor espetáculo do Palco.

Luciana Andradito disse...

Vi os espetáculos e fiz a Oficina em Palmas - TO, e posso dizer que isso mudou muita coisa em minha vida. Sou agradecida pela vinda e ensinamentos de vocês. O lugar de furta-cores os saúda com saúvas e saudades. Besossssss

Unknown disse...

Não sou do mundo artístico, mas com a pouca sensibilidade que possuo posso dizer aos atores de "O sapato do meu tio" que a apresentação em Manaus foi simplesmente sensacional. A história, a encenação, os gestos, o contexto artístico em geral demonstrado no decorrer da apresentação me fascinaram de uma forma como nunca havia ocorrido. Desejo a todos envolvidos nesse belíssimo projeto os meus sinceros parabéns e votos de que voltem a Manaus, desta vez no Teatro Amazonas, de modo que essa "obra de arte" possa ser vista por um público maior.
Sucesso!

Unknown disse...

Realmente, como falei pra voces aqui em Campina Grande PB no dia da apresentação no teatro do SESC centro um dia após meu aniversario, foi como se tivesse recebido um presente inesperado e que me emocionou muito pela forma e sensibilidade que voces representama além de nos dar uma aula de teatro o que me deixou com o desejo de ver mais e mais sem nunca esgotar o prazer de ve-los. só tenho que dizer-lhes muito obrigado pelo que nos proporcionou, voces merecem todos os premios que ja obtiveram e muito mais que tenho certeza que ainda irão receber. Um grande abraço do amigo paraibano

Biribinha disse...

Uma carroça tão pequena, com uma enorme carga de sentimentos simples e verdadeiros.Puxada por um personagem, que só a ele foi dado esse previlégio.

Palhaço Biribinha

madre disse...

o sapato do meu tio é um espetáculo para JAMAIS SAIR DE CARTAZ. é eterno.
stelinha carvalho

Talita Guimarães disse...

Olá amigos!!!

assisti à peça no último domingo
(29-03) em São Luís-MA ,durante a IV Semana de Teatro Maranhense, e simplesmente achei o trabalho genial.
A história é linda!!! De um texto leve e comovente. Tem o tempo certo do humor e da emoção. E os atores a compõem com extrema competência, com verdade e paixão pela arte. Não consegui piscar os olhos um segundo de modo que fiquei presa a cada gesto, cada movimento, cada expressão de vivacidade e sensibilidade dos atores. Estão de parabéns e merecem todos aqueles aplausos de pé que o público maranhense concedeu.
Fiquei emocionada com o espetáculo e devo pedir que voltem sempre ao nosso estado para nos presentear com tão genial e delicada produção teatral.

Parabéns e Sucesso!!!!

Talita Guimarães
Escritora e acadêmica de Jornalismo
tat_guimaraes@hotmail.com
http:www.ensaiosemfoco.blogspot.com

RONALDO MAGALHAES disse...

O esepetáculo é maravilhoso, sensível, singelo e altamente criativo. Eu fiz um comentário no meu blog sobre a peça http://aventurasdomochileirodasgalaxias.blogspot.com

. disse...

Meus olhos se enchem de lágrimas toda vez que lembro deste espetáculo simplesmente maravilhoso.Vida Longa!

Marcus Gusmão disse...

Um dos espetáculos mais emocionantes que já vi.

Tatiana Lima disse...

Lúcio, Alexandre e toda a equipe, Parabéns pelo belo espetáculo!!! Amei os dois personagens. O tio tem um jeito carrancudo, uma seriedade que dá dignidade a seu ofício de artista mambembe. Mas é capaz de rir das surpresas como o problema com a manga do paletó, o sapato e a banana (uma cena impagável!). Também vibra com os avanços do sobrinho. É um personagem multifacetado, com profundidade psicológica. Não é apenas o velho mal humorado. O sobrinho é um bufão encantador, com um excelente trabalho corporal que conquista a platéia de cara. Sem falar nos seu vocalizes, que são fundamentais para o ritmo do espetáculo. As duas interpretações estão irretocáveis! Eu ri feito criança, me emocionei no clímax... Saí extasiada. Só posso agradecer a maravilhosa experiência. Mais uma vez parabéns a todos! Longa vida ao Sapato!!!

Marcão Botelho disse...

Saí do teatro com aquela mesma sensação de impacto causada em minha "primeira" experiência, aos 12 anos, ao ver Chaplin, no Cinema Liceu, aprontando em Tempos Modernos. Obrigado por fazerem reviver aquela emotion picture, no caso, emotion drama... saí da sala sem palavras, mas quando ganhei a rua falei do Sapato sem parar, numa corrente emocional rara.
Marcão Botelho

Iara Teixeira disse...

Assisti há anos em Fortaleza. Me emocionou muito. Procurei na Internet pra ver se poderia assistir novamente. Parabéns! Espero revê-Los em breve.